Em 2025, como é o seu cantinho na Internet?
Então, chega a hora em que te fazem aquela pergunta: “E onde as pessoas te acham?” – ou – “E onde as pessoas te encontram?” – ou – “Onde você está?”.
Estão querendo saber onde você está na Internet; qual é (como é, onde é) a sua presença on-line.
No título deste texto, preferi falar em “cantinho na Internet” pois a expressão “presença on-line” foi acomodada (e massificada) no discurso dos coaches de marketing digital como algo muito específico (aquela coisa que, dizem eles, você precisa ter para alcançar sucesso e dinheiro). Preferi, então, introduzir o assunto usando a expressão “o seu cantinho na Internet” para salientar que abordarei o assunto aqui de outra perspectiva – privilegiando noções de segurança, conforto, ética, privacidade e tranquilidade (que, claro, em um contexto on-line hoje não precisam se mostrar incompatíveis com noções de realização pessoal e/ou sucesso profissional).
No início dos anos 2000, quando te perguntavam qual era o seu “endereço” na Internet, estavam querendo saber qual era o endereço (URL) do seu site pessoal e/ou profissional. Quando as redes sociais comerciais surgiram, elas venderam a ideia de que seria mais interessante e vantajoso (inclusive mais barato) ter uma conta lá, no jardim murado de cada uma delas, e não um site próprio. Passados vinte anos, está bem claro, para todos, a armadilha que foi aquela “oferta”.
De modo que, hoje, quando ouvem a pergunta “E onde as pessoas te encontram?”, a maioria das pessoas informa, simplesmente, um nome de usuário em uma das redes sociais comerciais (ou em mais de uma delas). Mas, em 2025, quando há anos é amplamente noticiado como se comportam as redes sociais comerciais, o quão interessante isto é? Quero dizer, a) as pessoas estão satisfeitas com a qualidade geral do serviço que as redes comerciais oferecem?; e b) quem é que hoje quer ter a sua imagem, pessoal ou profissional, diretamente associada a empresas que fazem aquelas coisas? a) Não tenho visto ou ouvido relatos de satisfação – ao contrário, vemos relatos de esgotamento, depressão e comportamentos compulsivos; b) difícil imaginar que alguém queira isso, numa época em que o cuidado com a imagem pessoal/profissional se tornou tão importante. E, no entanto, a grande maioria das pessoas segue cultivando uma presença on-line em redes sociais comerciais simplesmente porque desconhece as alternativas que existem a elas, que são várias, diversas e muito melhores.
O que é presença on-line?
A presença on-line é a forma de você existir na Internet – e, assim, poder apresentar lá informações sobre você, poder se expressar, poder ser encontrado(a) ou simplesmente contatado(a) – e participar de conversas com outras pessoas. Assim, é algo essencial – se você deseja apresentar, publicamente, informações sobre você, assim como ter e informar um canal de comunicação. Podemos considerar o endereço de e-mail como uma forma mínima de presença on-line: ele permite a comunicação com outras pessoas, mas sem fornecer informações públicas sobre você. Isto poderá ser suficiente para algumas pessoas. Para além de ter um e-mail (hoje algo necessário mesmo para contratar serviços importantes ou essenciais), ter alguma outra forma de presença on-line estará, então, relacionado com quem você é e quais são os seus interesses e objetivos.
Para avançarmos na reflexão e nos caminhos do seu processo de escolha, vamos colocar uma questão importante:
Para que você quer ter uma presença on-line?
Sim, pois dependendo do seu desejo e interesse, você escolherá aquele tipo de presença on-line que te parece mais adequado e satisfatório. Consideremos, então, as seguintes quatro possibilidades:
1. Socialização on-line (de forma ética e segura) Você quer ter uma presença on-line para estar em contato com pessoas queridas e próximas (amigos, essencialmente – incluindo aí alguns familiares, provavelmente). Por “estar em contato” queremos dizer: ter acesso às coisas que as pessoas escolheram compartilhar com você (apenas) e também com outras pessoas; fazer os seus próprios posts para os seus amigos; trocar mensagens; conversar em grupos. Para esse tipo de experiência, em 2025, a melhor opção, me parece, é ter uma conta em uma rede social não comercial. Desta forma, você vai usufruir, entre outras, das seguintes vantagens:
- Você não vai perder nenhum post dos seus amigos. A timeline destas redes te mostra todos os posts de seus amigos – e na ordem em que eles foram postados.
- Você não vai ver propagandas na sua timeline (ou em qualquer outra seção da sua rede social). É isso mesmo: você não vai ver posts de influenciadores/vendedores, propagandas de banco, carro, seguros etc., posts de golpistas ou qualquer post “impulsionado” (pago).
- Você não vai receber mensagens diretas (DMs) de pessoas para quem você não deu permissão para te enviar mensagens diretas. (Ou seja, nada de spam ou assédios).
- Você não vai ter uma timeline construída com estratégias para sequestrar a sua atenção, te viciar e te manter grudado(a) ali, vendo propagandas (então, você terá facilidade de interromper o uso da rede social e fazer outras coisas interessantes ao longo do seu dia).
- A sua rede social não vai rastrear a sua atividade na Internet; e não vai coletar, inferir, classificar, ceder ou vender os seus dados e informações pessoais.
- Você poderá estar em contato também com pessoas que usam outras redes sociais (inclusive redes do fediverso), e não somente aquela que você usa.
- E você poderá mesmo – se tiver interesse e conhecimento técnico suficiente – gerir, de forma independente, um dos vários sites que compõem a sua rede social (usando-o para hospedar apenas a sua conta ou também as contas de alguns de seus amigos).
Que tal o conjunto de possibilidades acima, em comparação com a experiência que você tem atualmente nas redes sociais comerciais? Estas possibilidades, especificamente, e muitas outras, estão disponíveis na rede social Hubzilla.
A rede social funcionará, de forma geral, da forma que acabamos de descrever porque ela é uma rede social não comercial, e, portanto, não precisa e nem quer funcionar como as redes sociais comerciais. Note que, uma rede social que funciona da forma acima te proporcionará uma experiência agradável, tranquila, não tóxica e não viciante – portanto, não afetando negativamente a sua saúde mental (ao contrário, proporcionará benefícios à sua saúde mental, pois te possibilitará cultivar on-line, de forma saudável, as suas relações sociais). Os seus amigos ainda não usam uma rede social não comercial? Você pode então encaminhar este texto para eles, convidá-los a abrir uma conta e juntar-se a você. (Veja aqui outras formas de convidar/trazer os seus amigos para a sua rede social não comercial).
Obs: Se, atualmente, você ainda precisa usar uma rede social comercial, lembre que, ao lado disso, usar uma rede social não comercial é o caminho para usufruir de uma experiência de sociabilidade on-line saudável e livre de limitações e condicionamentos impostos pelas redes comerciais.
2. Publicação de textos Você quer ter uma presença on-line para publicar textos mais longos e reflexivos sobre um assunto específico ou assuntos diversos. Para este objetivo, vamos considerar duas opções:
a) O blog. Os blogs foram um grande sucesso – como já vimos – antes do surgimento das redes sociais comerciais. Eles apenas perderam visibilidade porque as redes comerciais se apresentaram como superiores a eles, mas nunca o foram, realmente, pois blogs e redes sociais são ferramentas distintas (e, além disso, as redes sociais comerciais iriam se degradar, com a “bostificação” que realizaram). As redes comerciais, como em outros casos, tentaram desqualificar os blogs vendendo também a miragem do “alcance” (e de uma maior interação) dos posts para mais pessoas. O que, afinal, nem se confirmou, devido às constantes mudanças no algoritmo da timeline – que não garante sequer que o seu post seja visto pelos seus contatos. Para os textos que você quer publicar, o quanto fatores quantitativos relacionados a alcance e interação são importantes para você? Para quais pessoas você pretende escrever? Como você pensa em informar o seu público sobre a existência do seu blog? A depender de como você responda estas perguntas, o blog será uma ótima escolha. Recomendo o WriteFreely (é ele que usamos aqui no Tinta no Papel). Ele é software livre, oferece descentralização e federação (seus posts podem ser seguidos/acompanhados por contas em redes sociais não comerciais que usam o protocolo de comunicação ActivityPub). Você pode criar uma instância/site WriteFreely, para você apenas ou para várias pessoas que queiram ter seus blogs, ou você pode abrir uma conta em uma das instâncias abertas a inscrições públicas. WriteFreely oferece RSS feed e também a possibilidade de receber micropagamentos dos seus leitores.
b) A rede social não comercial Hubzilla é, também, aquilo que costuma ser chamado de “macro blog”. Isto significa que os seus posts podem ter longa extensão, fazendo com que ela possa ser usada também como um blog, mas possuindo todas as funcionalidades de uma rede social, como comentários nos textos/posts, além de muitos outros recursos. Leia a nossa introdução à rede Hubzilla.
3. e-mail seguro Você quer ter um e-mail seguro para usar como sua única forma de presença on-line ou em associação a uma das outras três formas que descrevemos aqui. Para este objetivo, recomendamos o e-mail seguro (e também agenda) Tuta. Sediado na Alemanha, Tuta é software livre, tem planos gratuito e pagos – e em todos eles oferece criptografia de ponta a ponta automática entre usuários Tuta (e também em mensagens enviadas para usuários de outros e-mails, mediante o uso de senha compartilhada previamente com os destinatários). Estas características tornam Tuta mais transparente e seguro do que os e-mails famosos que você conhece. (Confira a comparação que o Tuta apresenta entre o Gmail e o Tuta).
4. Criatividade, customização e controle Você quer ter uma presença on-line para publicar todo tipo de mídia, mas tendo o controle total sobre o design, a estrutura e a navegação do seu espaço on-line. Neste caso, você deve construir a sua página ou site pessoal na Internet. Para isso, você precisa aprender HTML para construir as páginas web. É fácil e divertido fazer uma página web simples! Depois, se você quiser ter mais controle sobre o visual do seu site, você pode aprender CSS. Para colocar as suas páginas na Internet, você precisa contratar um serviço de webhosting. (Faça uma busca por “webhosting” para encontrar um serviço que te agrade). Para criar e comprar o seu endereço (URL) próprio na Internet, com o seu nome, você pode ir ao Registro BR, onde você pode comprar um URL .br (custa cerca de 40 reais por ano). Para se animar, dê uma olhada nesta lista de 100 coisas que você pode fazer no seu site pessoal! E, veja só: a rede social Hubzilla também te permite criar, facilmente, páginas e sites web (basta instalar, também facilmente, o seu app nativo Webpages). Aqui, também, continuará sendo importante aprender HTML, ainda que o básico.
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Obs: Os softwares mencionados (e recomendados) aqui – Hubzilla, WriteFreely e Tuta – são software livre.
[21 out 2024]
Atualizado em: 20 jan 2025.